10 de fev. de 2012

Desigualdade e pobreza - Parte 1 - O livre mercado e o padrão de vida


Os críticos do livre mercado afirmam que este gera pobreza e desigualdade e por isso deve ser combatido com intervenções do Estado na economia e políticas de "distribuição de renda". Mas para darmos início a um debate sobre uma suposta inferioridade moral do capitalismo que hoje faz parte do senso comum, é preciso questionarmos se 1) a pobreza é mesmo culpa do livre mercado e 2) a desigualdade é inerentemente ruim.

A única coisa que é consenso entre liberais e socialistas, é que a pobreza é algo ruim. E falar que a pobreza existente no mundo atual é culpa do capitalismo é errôneo. A pobreza, se definirmos como escassez de bens e recursos, acompanha o ser humano desde a sua existência. E se ela pudesse deixar de existir simplesmente através do desejo de todos, poderíamos acabar com a miséria através de um simples decreto, mas infelizmente, para alguém que pensa de modo simplista, isso é impossível.

Falar também que a pobreza só existe porque existe desigualdade também não é correto. Pode até ser que, se viesse um governante benevolente e distribuísse todo o dinheiro existente em uma cidade/estado/país uniformemente (por decreto, como disse acima), a desigualdade seria resolvida em um curtíssimo prazo e depois voltaria naturalmente. É preciso levar em consideração algumas consequências, que, apesar de óbvias, são ignoradas nas análises econômicas socialistas.

O trabalhador, é, ao mesmo tempo (embora eu pudesse dizer “antes de tudo”), um consumidor. Se todas as pessoas passassem a ser ricas por decreto, elas naturalmente teriam menos motivação para produzir (trabalhar, poupar e investir) e mais motivação para consumir. Com pessoas consumindo mais e produzindo menos, a consequência seria uma escassez de produtos. Essa escassez geraria um aumento na demanda e isso aumentaria os preços. A solução possível é que, alguns poucos que tenham poupado, assumam o risco de investir na produção e passem a vender produtos, com o legítimo desejo de ganhar mais dinheiro, sabendo também que poderiam falir caso não conseguisse atender a demanda dos consumidores. E as pessoas trocam voluntariamente o dinheiro que possuem pelos produtos que antes faltavam, que ficariam cada vez mais baratos conforme a produção fosse aumentando e a concorrência diversificasse estes produtos. Os produtores que atenderam melhor as necessidades do trabalhador enriqueceram e as pessoas que compraram seus produtos tiveram suas necessidades satisfeitas. Estas últimas, quando acabarem com seu poder de compra, gastando muito ou investindo mal, vão precisar trabalhar em troca de salário para poderem continuar comprando. Essa é a desigualdade dentro do livre mercado. E como vocês podem ver, não houve nenhum crime ou atitude coerciva e imoral neste arranjo. Obviamente, uns se beneficiaram mais devido a certas escolhas econômicas. Mas todos, de alguma forma, se beneficiaram.

É aí que se dá início às críticas esquerdistas, que condenam a desigualdade já que muita gente não possui o que os ricos possuem. Mas o que estes críticos não levam em consideração, é que a situação não é pior justamente graças à busca do lucro. Quando alguém resolve assumir o risco de investir seu capital na produção para entrar em concorrência com outro produtor, a tendência são os preços baixarem devido ao aumento da oferta. Além disso, existem os empreendedores que assumem estes riscos para investir em inovações que melhoram a vida das pessoas, trazendo mais acesso a informação, mais conforto material e maior bem estar. São graças a esses “gananciosos” empresários, que hoje uma parcela considerável da população de países que ainda possuem relativa liberdade econômica podem ter informação de qualquer lugar do mundo em segundos, enquanto há 100 anos durava dias e até meses para ter essa mesma informação. O mesmo vale para a saúde, já que a expectativa de vida, que durante muito tempo se manteve praticamente estável durante séculos, mais que dobrou depois do advento do capitalismo até hoje. Sobre a questão do conforto material, Mises ilustra a evolução do padrão de vida das pessoas no livre mercado da seguinte maneira:

"Hoje, nos países capitalistas, há relativamente pouca diferença entre a vida básica das chamadas classes mais altas e a das mais baixas: ambas têm alimento, roupas e abrigo. Mas no século XVIII, e nos que o precederam, o que distinguia o homem da classe média do da classe baixa era o fato de o primeiro ter sapatos, e o segundo, não. Hoje, nos Estados Unidos, a diferença entre um rico e um pobre reduz-se muitas vezes à diferença entre um Cadillac e um Chevrolet. O Chevrolet pode ser de segunda mão, mas presta a seu dono basicamente os mesmos serviços que o Cadillac poderia prestar, uma vez que também está apto a se deslocar de um local a outro."

Um adendo, já que as pessoas vão dizer que em muitos países da América Latina e da África nem todo mundo tem alimento, roupas e abrigo. É importante ressaltar que nesses países, existem muitas restrições ao mercado, isso quando não estão em constante guerra civil. Falar da colonização como motivo para a pobreza também é errado, uma vez que países asiáticos que conseguiram sua independência apenas em meados do século XX optaram pelo livre mercado e a população tem um padrão de vida muito superior. Além disso, países com maior liberdade econômica das regiões citadas estão mais bem posicionados no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano. O Chile é a economia mais livre da América Latina e tem o maior IDH, da mesma forma que os maiores IDHs da África Subsaariana são justamente dos países de economia mais livre: Ilhas Maurício e Botswana, sendo que o primeiro está na frente do Brasil no ranking do IDH.

Com isso, é possível concluir que a desigualdade, apesar de parecer uma "injustiça" aos olhos de muitas pessoas, não é algo que possa ser considerado algo prejudicial, pelo menos em uma economia de livre mercado. Ela também existiu nos regimes escravistas, no feudalismo e também no socialismo real. Mas a diferença da desigualdade das pessoas nestes sistemas econômicos citados e no capitalismo, é que enquanto naqueles a desigualdade existia através da pilhagem e do uso da força contra outros homens, no livre mercado as pessoas só podem ser mais ricas criando valor para as outras pessoas, e estas enriquecem apenas quando contribuem com algo de útil para a sociedade como um todo.

P.S. 1: Nos outros posts sobre desigualdade e pobreza, vou comentar o porquê de a esquerda ainda ser hegemônica no Brasil e como lidar com a questão da ajuda aos pobres sem que haja um Estado grande.

P.S. 2: O video abaixo mostra as inúmeras possibilidade de mercado que o Brasil teria se o governo não nos roubasse tanto dinheiro através de impostos, mostrando que o livre mercado poderia sim solucionar problemas que a maioria da população julga ser função do Estado.





20 de jan. de 2012

16 de jan. de 2012

Por que o ensino obrigatório de filosofia e sociologia é ruim

Muita gente ficou indignada com as críticas da Revista Veja em relação à obrigatoriedade do ensino de filosofia e sociologia no ensino médio. Nada de anormal nisso. Afinal, a preguiça intelectual que reina entre os acadêmicos do meu Brasil varonil faz com que tudo que apareça na Veja (especialmente se tiver uma defesa do Tio Rei) pode ser automaticamente caracterizado como algo nefasto e que atenta contra o povo. Mas dessa vez, não há como discordar da Veja. E quem fala isso é alguém formado em ciências sociais, que durante o período em que esteve na faculdade participou das discussões sobre esta lei, e, depois de formado, lecionou as duas matérias em escolas estaduais e acha a Veja uma revista ruim, mas que prefere acreditar no que está vendo, e não no que nos outros estão falando.

Parte da indignação veio porque a matéria linkada acima fala que a sociologia e a filosofia, na prática, estariam servindo de vetor para aumentar a pregação ideológica de esquerda nas escolas. E isso é real. Basta ler o chamado Conteúdo Básico Comum e ver que ele é extremamente carregado de esquerdismo. Talvez esse seja o grande problema da obrigatoriedade das disciplinas. No momento em que ela se torna obrigatória, junto com ela vem um monte de regras estatais que mais atrapalham do que ajudam os professores e alunos e que não contribuem em nada para uma "criticidade" maior dos alunos. Apenas mais do mesmo da ideologia dominante.

Mas o pior acontece quando chega na base, onde estão os professores das áreas de humanas, que não só não fazem a menor questão de questionar o CBC, como acabam intensificando a doutrinação. Já li planejamentos de aula de vários colegas meus, onde o assunto das aulas era a crítica ao tal do neoliberalismo e a sociedade de consumo. Esquerdistas, é claro, não vão ver nenhum problema nisso, pois eles não gostam do "neoliberalismo", mesmo ignorando o fato de que não há nenhuma escola sociológica, econômica ou qualquer coisa que se intitule neoliberal. Mas, supondo que o neoliberalismo seja uma reedição do liberalismo clássico e da defesa de valores como o livre mercado e a propriedade privada, NENHUM professor de ciências humanas que eu conheci durante esses anos em que trabalhei na rede pública está apto a fazer comentários (e muito menos críticas) sobre esses temas. Não conheci ninguém dentro da rede pública que leu autores que defendiam o liberalismo (e em outro momento quero falar da culpa das universidades nisso). E como se não bastasse apenas replicar o esquerdismo, os professores também incitavam os alunos a participar dos movimentos, como uma vez em que vi um professor de história dizendo o quanto era importante para os alunos (?) apoiar a greve dos professores.

Existem outras ciências que os alunos (os principais interessados numa boa educação) poderiam julgar mais úteis e mais importantes que a sociologia e a filosofia, que estão fora da grade curricular do ensino básico. Economia e direito são algumas delas. E, como quaisquer outras áreas do conhecimento, podem ser exploradas em outras disciplinas, como português e matemática. Mas porque ninguém defende a economia, por exemplo? À propósito, uma situação que demonstra a hegemonia ideológica da esquerda é o fato de que a única teoria econômica citada para alunos do ensino médio seja o marxismo. Até hoje, mesmo com todas as provas na teoria e na prática de que o cálculo econômico sob um regime socialista é impossível, os professores ainda vendem a idiota teoria da mais valia como algo definitivo e jamais refutado. Alguém poderia me dar um nome para isso que não seja doutrinação?

As "boas intenções" dos burocratas mais uma vez de nada serviram. E a solução não virá com leis e normas impostas pelo governo. É conversa fiada dizer que sociologia e filosofia vêm colaborando para despertar a consciência crítica dos alunos. Pelo contrário. Afinal, os professores só podem ensinar aquilo que sabem e transmitir aquilo que possuem. A crítica não é contra a sociologia e a filosofia (é bom frisar isso: em momento algum a Veja criticou essas ciências), mas ao fato de essas matérias terem sido transformadas em obrigatórias por força de lei e depois serem usadas como objeto de politicagem e manipulação.

Recomendo:

Escola sem Partido - ONG que denuncia doutrinação nas escolas.

As Seis Lições, de Ludwig von Mises - Versão digitalizada de um dos livros mais importantes do liberalismo moderno. Quem dá aula de ciências humanas deveria ter a bondade de ler para, ao menos, criticar algo que conhece, ainda que superficialmente. E uma boa notícia: só tem 100 páginas =)


2 de jan. de 2012

Começando outra vez.

É isso. Depois de muito tempo sem escrever, resolvi voltar. Depois ajeito layout e outras coisas menos importantes...